terça-feira, janeiro 12, 2010

E a burra sou eu?

Já há algum tempo que não escrevia aqui peripécias dos miudos das primária. Aqui vai uma que aconteceu esta tarde. Fresquinha, fresquinha!!

Hoje fui substituir um professor numa turma de 3º ano, creio. (Vejam lá, fiquei tão atarantada com a turma que nem vi o ano!!) Cheguei 5 minutos após a hora e como hoje choveu torrencialmente os miudos tiveram que ficar na sala durante o intervalo.
Quando lá cheguei era a feira instalada! A correr, a falar,a brincar... Tudo à vontadinha do freguês!!
Houve um que queria ver o Valliant! Desliguei a tv e o dvd!
Tentei acalma-los e fui ao livro de ponto ver o que é que o professor tinha dado nas últimas aulas e vi que tinha ensinado esta canção:



Então escrevi a letra no quadro para depois poder trabalhar a pulsação, ritmo e forma musical da canção.

"O Inverno é mau
trás chuva, trás frio.
O Inverno é mau
Que mau é o frio.

Mas eu p'ra esquecer
Vou saltar, vou correr
O Inverno assim
Não é mau p'ra mim. "

A palavra "p'ra" foi uma complicação para eles de tal modo que apaguei e escrevi "pra".
Entretanto eles começaram a passar a letra da canção e chamaram-me a atenção que me faltavam um "é" no verso "O Inverno assim". Ora a ver vamos "O Inverno é assim, Não é mau pra mim." Não me cheirou.
Toca de pôr o cd a tocar uma série de vezes até se confirmar de que a minha versão estava correcta.
Mas houve uma menina que continuou a insistir que era da outra maneira, e que era, e que era e que era e pronto!!
Eu disse que não era e deixei ficar. De repente só oiço:

"Ué professora!!! Ela ti chamou de burra!"

Pois está claro! Burra! Então confrontei-a:

Eu: Porque é que eu sou burra?
ela: ...
Eu: estou a fazer-te uma pergunta. Porque é que sou burra?
Ela: ...
Eu: Alô? PORQUE É QUE SOU BURRA? (vá, eu sei que insisti demais, mas tinha de chegar ao fundo a ver se ela admitia se tinha dito ou não e porquê).
Ela: ... (com uns olhos capazes de me queimar ali mesmo na hora)
Eu: Porque é que sou burra, mesmo depois de ter posto a música 3 ou 4 vezes a tocar até ter a certeza de que a palavra "é" não faz parte?
ela: ...

Eu até lhe sugeri ir perguntar a mãe porque é que a filha achava que eu era burra, ideia que creio não lhe ter agradado muito.
Depois de muito insistir ela lá confessou:

Ela: Eu disse para aquela menina, que a professora até parecia burra...
Eu: Então diz-me porquê, porque eu até posso ser burra e não saber e assim vou aprender (admito, que não gosto de ser anarquista e dizer que somente a minha palavra impera na sala, queria dar-lhe oportunidade de se explicar e neste caso, até porque eu também erro mas neste caso não estava errada, neste caso fazê-la ver que eu tinha tido esse cuidado).

Depois de todos terem confirmado que a palavra não fazia parte da canção e de lhe dizerem que eu tinha confirmado uma série de vezes até ter certeza, lá ficou ela no seu lugar, amuadinha a fazer-me cara feia o resto da aula.
Para que ela não ficasse chateada pus lá a palavrinha mas avisei o resto da turma que aquele "é" era só para ela, para ela ficar mais contente.

Passado um pouco olho para ela e vejo-a de olhos brilhantes:

Eu: Porque é que estás com essa cara?
Ela: ...
Eu: Fui mal educada contigo?
Ela: Não
Eu: Bati-te?
Ela: Não.
Eu: Chamei-te nomes?
Ela: Não..
Eu: Gozei-te?
Ela: Não, mas eles sim!!

desata a chorar!

Só a mim!!! bolas!

1 comentário:

Júlio Gonçalves disse...

Olá Carla!

Estive "p'raqui" a ver os teus textos. E devo dizer-te que gostei especialmente deste.

Porquê?
Porque reflete o nosso trabalho enquanto educadores. E, sobretudo, a paciência que temos de ter...
Beijinho*

P.S.- escreves muito bem ;)